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sexta-feira, 28 de junho de 2013

TERNURA



Onde estão os meus afetos
E todos nossos projetos?!
Um vendaval outonal,
Com a ajuda do inverno
Destruiu o que era terno.

Nas folhas, em rodopio,
Iam também a candura,
Emoção e aceitação,
Uma grande admiração
E muita, muita afeição.

Mas o vento, quando leva,
Não volta a pôr no lugar.
Muito menos...sentimentos
O que só veio agravar
A ausência a suportar.

Porém, chega um turbilhão,
Que tudo veio alterar
Trouxe consigo a paixão
Junto co'a luz do luar
E muita, muita afeição.

De repente, há um silêncio!
Só a Lua nos espreita
E ela toda se deleita
Com a TERNURA refeita
Nos corações de nós dois.


Beatriz de Bragança Santos

sábado, 15 de junho de 2013

REQUISITOS DE UMA OBRA DE ARTE

CEDIDO
Aristóteles diz:
«É preciso que,como nas outras artes de imitação, a unidade de imitação resulte da unidade do objeto; assim, na fábula, já que há a imitação de uma ação, que esta imitação seja una e inteira, e que as partes estejam unidas de tal forma,que se se transpõe ou corta alguma delas, o todo seja abalado e transtornado.» (Aristóteles, Poética,1451 a, 22 - 34)
Na obra de arte deve haver clareza e nobreza de elocução. A obra será clara e nobre quando, usando as palavras comuns está semeada de metáforas: o poeta tempera a obra deste modo, é claro e nobre: dá grandeza à banalidade. Mas também pode cair no barbarismo, se emprega apenas metáforas; ou ser baixo por causa do exclusivismo das palavras comuns; ou enigmático se gasta, em absoluto termos insignes ou «caros».
Outro requisito: a variedade. «Varietas deletat», segundo o prolóquio latino.
Na opinião do Filósofo, a epopeia tem uma particularidade importante: enquanto a tragédia só pode imitar a ação que está em cena, a epopeia imita muitas partes simultâneas da ação. Ora isto dá grandeza à obra épica, proporciona ao ouvinte o prazer da mudança, e prepara a variedade de episódios dissimilhantes. (Aristóteles, Poética,1459 b, 13 s)
Devem, ainda, as obras de arte ter uma certa extensão. Como escreve o autor da Poética,«uma coisa pode ser inteira e ter pouca extensão.É inteira aquela que tem começo, meio e fim». E remata: «As fábulas bem constituídas não devem, pois, começar nem acabar num ponto tomado ao acaso.» (Aristóteles, Poética,1450 b, 24 - 35
Só outro requisito mais: a proporção.
A este respeito,escreve: porque « a beleza reside na extensão e na ordem..., um animal belo não pode ser extremamente pequeno (porque torna - se confusa a vista quando não dura senão um momento quase impercetível), nem extremamente grande (porque, neste caso, não o abrange o olhar, mas a unidade e a totalidade escapam à vista do espectador; imagine - se , por exemplo, um animal que tivesse milhares de estádios de comprimento...) segue - se que, se para os corpos e para os animais é precisa uma grandeza tal que se possa abranger com a vista, do mesmo modo é precisa para as fábulas uma extensão tal que a memória possa capturar.» (Aristóteles, Poética,1450 b, 35 - 40; 1450 a 1 - 6)
Nem São Tomás disse melhor quando se exprimiu assim:- «Pulchra enim dicuntur quae visa placent; unde pulchrum in debita proportione consistit, quia sensus delectatur in rebus debite proportionatis.» (Aquinatis, S. Thomas, Sum. Th., Parisiis (ed. 17 q.V, art. IV.) « Os pequenos podem ser formosos e comensurados - mas não belos.» (Aquinatis, S. TH., in Libros Ethicorum Arist. ad Nicomacum, Taurini, 1934, Lib. IV, p. 249 - 251)

J.E.SANTOS - meu pai

segunda-feira, 10 de junho de 2013

ONTEM (Dueto) - PARTE II

Imagem da Net
Começa a grande poetisa Manuela Barroso:

E chegando à noitinha
Regando o meu jardim
misturava a cor das rosas
e o cantar alegre das aves
com outras flores formosas.

Da nascente a água fresca
um bálsamo da Natureza
correndo pelos regatos
contornavam os desacatos
do coaxar das rãs na represa.

Quando o rio convidava
de cana na mão ia à pesca.
O prazer da dança dos peixes
no desalinho da linha
para mim era uma festa.

CONTINUO:

Pois eu rego os meus canteiros                    5) É que toda a gente gosta
Bem cedo,pela manhã,                                    Destes « frutos» sazonais
Rosas, zínias e craveiros,                                 Que o rio não dá à costa             
Que não têm nada de arteiros,                         E pescá-los, da encosta,
Ouvindo música sã:                                         É difícil por demais.

É o alegre chilrear                                           Dantes, havia pesqueiras,
De toda essa passarada                                  Que agora estão afundadas
Que volteja, pelo ar,                                       E o povo das costeiras,
E eu olho, lá da sacada,                                  Passando muitas canseiras,
Muito contente, a cantar,                                Traz lampreias arranjadas.
Seguindo-lhes a toada.
                                                                      E então, com satisfação,
Mas há outros sons por lá,                              Reúnem logo as famílias
Que enchem nossos ouvidos.                          Umas, lá no casarão,
Vêm dos regatos que há                                 Outras, debaixo das tílias,
Com seus anfíbios, coaxando,                         P'ra uma bela refeição.
E mais bichos destemidos.
                                                                      Há festa durante os meses,
O Douro, bem lá ao fundo,                             Que vão de janeiro a abril.
Só dá p'ra pescar à cana.                                E eu vejo, muitas vezes,
Com barragens, é profundo                             Emigrantes portugueses
E as lampreias e sáveis                                    A regressar p'lo repasto
Que são muito indispensáveis                          Aos magotes, mais de mil.
Não chegam nem p'ra meio mundo.

                             Beatriz de Bragança Santos

quarta-feira, 5 de junho de 2013

COM OS MEUS

Imagem da Net
Desperto e louvo a Deus
E falo logo com os meus.

Conto-lhes sempre os segredos:
Toda a minha solidão,
Onde só minhas pegadas
Colocam marcas no chão.

E os meus lá ouvem sempre
Meu  murmúrio bem profundo,
Que nunca os importuna
Nem por nada deste mundo.
Nem sequer minha humildade
Os faz,jamais, reagir.

Vem fome,sede e saudade.
Mas as imagens que passam
Por diante dos meus olhos
Só conseguem ver abrolhos.
Só plantas e animais
São saciados demais.

Regresso aos meus.

Quer estejam em casa ou não,
Sempre conforto me dão.
Escutam-me e eu abrando.
Fico mais leve, qual pluma
Confundida com a bruma,
Que nem deixa ver o chão.

Se me perco, estão comigo.

Toco neles e, do monte,
Eu vislumbro o horizonte
Ali mesmo, bem defronte
E reencontro-me em fonte,
Cidade ou qualquer lugar.

E os meus olhos descansam,
Cansados de tanto amar.


Beatriz de Bragança Santos



segunda-feira, 3 de junho de 2013

DEUS E EU

Melro
Olhando para os primeiros raios de Sol,
Que reverberam multicores sobre o orvalho, e abrem o girassol
Eu me aconchego.

Ouvindo os primeiros trinados matinais
De melros, cucos, rolas, pombas e pardais
Eu me aconchego.

Vendo o ondular turbulento do rio,
À passagem de mercadorias e passageiros, em navio
Eu me aconchego.
Cuco

Ao meio do dia, sob uma canícula que tudo aquieta e acalma,
E tudo faz parar, para depois recomeçar com alma,
Eu me aconchego.

Na tarde duradoira dos dias de estio,
Lendo um bom livro ou cavaqueando com meus pais e tio,
Eu me aconchego.

Quando o Sol se esconde, deixando no horizonte
Matizes harmoniosos cor de fogo ou rosa, junto à fonte,
Rola
Eu me aconchego.

E à noite, depois de ir saudar os meus pais
E lhes aconchegar a roupa mais,
Regresso ao meu aposento,
Ao Criador, elevo um grato pensamento
E sinto que em Seu regaço
ELE me aconchega.