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segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

ESTUDANDO ARISTÓTELES E A POESIA

CEDIDO

Este é o quinto excerto de um artigo escrito pelo meu pai.

Imagem do Google
 «Segundo Platão, o mundo físico é a sombra ou a paródia das ideias. Em Aristóteles, é a sua realização... Desta concepção fundamental na filosofia aristotélica, em diametral oposição ao idealismo de Platão, deriva, como forçoso corolário, a total contradição entre os métodos seguidos pelos dois egrégios sabedores.

Platão, apegado ao ideal e supra-sensível, revoa em regiões inacessíveis ao mundo fenomenal, e constrói todo o saber pela energia dialéctica do espírito. Aristóteles, ao revés, no seu trabalho filosófico, parte do real e do sensível para elevar-se destes postulados da experiência até à noção do universal.» Latino Coelho, Demóstenes, Oração da Coroa, Lisboa, 1922 (4ª edição)

Segundo Newmann, Aristóteles - acusado, por vezes, de materialista, por causa dessa diferença - admite a actividade idealizante do artista.

Segundo Ritter, o objecto da arte, para Platão, é a reprodução da realidade.

Fouillée, um dos melhores intérpretes de Platão, falando da «poietikès»,distingue entre arte de criação e arte de imitação. Enumera, depois, dois modos de imitar: a imitação das Ideias eternas e a dos objectos perecíveis.
Para o criador do idealismo realista, o Belo, fim do amor, é o esplendor do Bem. Superior à verdade e à ciência, o Belo só teria acima de si a ideia do bem, se não chegasse mesmo a confundir-se com ela. O que não sucede. Porque, se todo o belo é bom, a Beleza não é todo o Bem; é, antes, um aspecto, uma manifestação dessa ideia. A beleza é irmã da proporção e da verdade e filha do Bem - continua Fouillée. Filha primogénita, se se aceitasse a figura. Em suma, se o Bem é Deus, a beleza é a manifestação suprema do mesmo Deus. A beleza concreta, não obstante ser a natureza uma sombra das realidades ideais, contém todos os caracteres da verdadeira beleza.
O mundo é belo, porque a Bondade suprema (Deus) o fez semelhante a si. A beleza do homem é a virtude. Fouillée, A., La Philosophie de Platon, Paris, 1929 (2ème édition) tom.II, p.15 ss.
Mas lê-se na «República»: «os ditirambos, as comédias, as tragédias são imitações» in Platão, República, lib.III. 394 B-C; 395 B Contudo, o objecto de arte, em Platão, não é a imitação servil da realidade. A não ser que falemos da realidade platónica. Platão rejeita precisamente certa poesia por ir contra a realidade (platónica). O objecto de arte, para o filósofo divino, é, como interpreta o citado autor francês, não o prazer ou a simples imitação da natureza, mas a expressão de um ideal de beleza. A imitação dos objectos não passa de um meio; e o prazer é um resultado que só tem valor pelos sentimentos a que dá origem..

Também Aristóteles divide a poesia em razão do carácter próprio dos autores: os de alma elevada (refere-se, aqui, à poesia primitiva) acções belas e acções de homens de mérito; os autores vulgares imitavam acções vis, compondo infâmias como outros compunham hinos e elogios. «A poesia - escreve o Filósofo na «Poética» - é mais filosófica e dum carácter mais elevado do que a história; porque a poesia narra de preferência o geral, a história o particular. O geral, ou seja, que tal ou tal espécie de homem dirá ou fará tais ou tais coisas verosímil ou necessariamente; (...) Aristóteles, op.cit..1451 b. 5-10

Assim o compreendem Turner- (Turner, W., Storia della Fil., Vicenza 1935 (trad. G. Trinko), quando fala de Aristóteles), Newmann- (Newmann, Dr. E., Estética Contemporânea, Coimbra 1930, ed.3ª, Trad.L.F. dos Santos, ofm-p.4) e Hardy- (Arist., op.cit., p.CCCLXXIX ss.

J.E.Santos - meu pai