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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

RECORDANDO

Imagem do Google
- Sabes que lembranças tenho do meu pai? (Esta pergunta era-me colocada imensas vezes.) E continuava:
- Sentada no seu colo, enfiava os meus dedinhos nos seus lindos caracóis e, com ele, brincava.
E prosseguia:
- O meu pai, enternecido, ficava horas a fio assim, comigo... E éramos tão felizes!!!

Comovida, eu, continuava a ouvi-la, embora este diálogo se repetisse, vezes sem conta, era eu muito menina e ela ainda jovem.
Agora, como eu a entendo!
Também tenho vontade de estar sempre a repetir como foram certas situações que, juntas, felizes vivemos.
Seu pai faleceu com uma terrível pneumonia, tinha ELA três anos de idade.
Três anos de idade!!!
Décadas depois, a saudade ainda imperava, embora as recordações fossem poucas.
Três anos de idade!!!

E continuava:
- Ele estava sempre bem disposto e sabia muito bem tocar violão. Na proa do seu barco, rio Douro abaixo, trazendo o vinho fino (vulgo - vinho do Porto) para as caves em Vila Nova de Gaia, tocava e cantava alegremente. E quando a frota dobrava aquela curva à esquerda, junto à foz do Tâmega, bem perto da nossa casa, a minha mãe dizia:
- Lá vai o vosso pai com mais um carregamento! Não tarda, passará uns belos dias connosco.

O frio do Alto Douro ( ou o intenso calor), a viagem na proa do barco, muitas saídas para os areais, onde juntas de bois das quintas ribeirinhas ajudavam a puxar a frota e a aliviar os remadores, tudo isso culminou na sua fulminante doença.

E eu, tenho a sensação de estar a «ver» aquela «bébé», no colo do seu pai, a entreter-se com os seus cabelos anelados.